Jurassic World Reino Ameaçado investe no terror mas derrapa na trama


Mais de 240 milhões de anos após sua extinção, os dinossauros seguem povoando, de alguma maneira, o planeta. Aos menos na cultura pop, eles marcam presença nos cinemas com a estreia de Jurassic World: Reino ameaçado, quinto filme da franquia iniciada em 1993 por Steven Spielberg. 

O novo filme faz parte da nova trilogia iniciada em 2015, que dava continuidade aos acontecimentos narrados nas três primeiras produções da série (1993, 1997 e 2001). Reaberto, o Parque dos Dinossauros funcionou normalmente durante algum tempo como espécie de zoológico jurássico híbrido de Disney World. Porém uma falha comprometeu a segurança do local, levando as instalações a serem novamente fechadas, como visto em Jurassic World (2015). 

Em Reino ameaçado, ficamos sabendo que as criaturas sobreviveram na ilha onde funcionava o parque, mesmo após o local ter sido abandonado. Agora, com um vulcão local prestes a entrar em erupção, os animais correm risco de serem novamente extintos. Dirigido por J. A. Bayona (O orfanato) e escrito por Colin Trevorrow, diretor e roteirista do primeiro Jurassic World, o novo filme traz um dilema interessante: seria correto enviar esforços para salvar criaturas já extintas que foram trazidas à vida pelo homem? 

Ao mesmo tempo em que a iminência da erupção parece uma maneira da natureza corrigir a ação humana que trouxe de volta os dinossauros, deixar os animais à mercê do vulcão também provoca questionamentos, afinal, sendo eles uma criação do homem, seriam também sua responsabilidade. A premissa casa bem com assuntos abordados no filme original e também no livro que inspirou a franquia, escrito por Michael Crichton (1942-2008). 

Para além da ficção científica, o romance explora questões da bioética, tema bastante em voga a partir dos anos 1990, com os avanços da engenharia genética. Menos ensolarado do que seu antecessor, Reino ameaçado não se pauta tanto pela aventura e resgata tons mais sombrios vistos nos dois primeiros filmes da série, dirigidos por Spielberg. Já tendo dirigido O orfanato (2007) e episódios da série Penny Dreadful, o espanhol J. A. Bayona volta a mostrar veia para o horror e garante ótimas sequências de aparições e ataques de dinossauros. 

Bayona transmite um senso de urgência e clima de iminente perigo. Outro ponto de aproximação com o início da franquia Jurassic Park é a presença do Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum), personagem originário do livro e presente nos dois primeiros filmes. Pontual, a presença do matemático não apela excessivamente para a nostalgia, mas também parece mal aproveitada. A trama segue conduzida pela ex-gerente do Jurassic World, Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) e pelo pesquisador Owen Grady (Chris Pratt). 

Um dos mais carismáticos atores da atualidade, Pratt funciona bem no universo de Jurassic Park e imprime uma boa dose de humor, mas não há muito desenvolvimento de seu personagem. Com mais importância na história, o papel de Bryce Dallas Howard deixou de ser, simplesmente, uma figura feminina em constante perigo nem utiliza mais salto alto para correr, como no longa anterior. Mas também não há aprofundamento, como todos os outros elementos da história, sobretudo os vilões, bastante caricatos e rasos. 

As verdadeiras estrelas do filme, os dinossauros, estão visualmente mais críveis. O menor uso de efeitos digitais e adoção de bonecos animatrônicos adiciona maior realismo às cenas, até mesmo pela interação mais eficiente com os atores. Curiosamente, o filme de 1993, menos dependente da computação, ainda parece imbatível nesse campo. 

Jurassic World: Reino ameaçado
 é tecnicamente competente e se sai bem enquanto filme de monstro, embora carregue vícios e recicle situações vistas anteriormente na franquia. De todo jeito, o final e, particularmente, a cena pós-crédito, pode apontar um rumo promissor para a série e, quem sabe, trazer uma necessária renovação. Não é esse o filme que trará de volta o deslumbramento ao adentrar no Parque dos Dinossauros, mas vale ver novamente essas criaturas na tela do cinema. 

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